Quando o mais alto magistrado de Angola, general João Lourenço, diz “se haver necessidade” em vez de “se houver necessidade”, não se está a falar de uma variante angolana da língua portuguesa. Está a falar-se de ignorância e iliteracia.
Por Orlando Castro
Quando a então ministra da Educação, Ana Paula Tuavanje Elias, fala de “compromíssio” em vez de “compromisso”, não se está a falar de uma variante angolana da língua portuguesa. Está a falar-se de ignorância e iliteracia.
No dia 3 de Maio de 2022, o ministro das Relações Exteriores angolano, Téte António, destacou a “relação secular” de Angola com a língua portuguesa e considerou a comemoração do Dia da Língua como um ganho da diplomacia da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP). Mesmo que a língua portuguesa seja assassinada todos os dias, até mesmo pelos mais altos dignitários do país.
“Ao falar da língua portuguesa, permite-se falar do legado de, já no século XV, os nossos ancestrais terem tomado a decisão de assumirem a língua portuguesa como a língua da corte, à época as escolas eram florescentes e aí já circulavam professores”, afirmou Téte António.
Segundo o ministro angolano, que presidiu na altura, em Luanda, à cerimónia solene alusiva ao Dia Mundial da Língua Portuguesa, Angola tem uma relação secular com a língua portuguesa, porque em alguns reinos, como do Congo, já se falava na época o português.
“Porque na região teriam sido abertas as primeiras escolas não tradicionais e terá sido a primeira região africana a dedicar-se no ensino de uma língua de origem não africana”, descreveu. “Dedicar-se no ensino” ou “dedicar-se ao ensino”?
“[Hoje] celebramos uma das datas mais importantes da nossa comunidade e da língua portuguesa e da cultura da CPLP, instituída na 14ª Reunião Ordinária do Conselho de Ministros realizada em 20 de Julho de 2009 na cidade de Praia”, recordou.
A comemoração do Dia Mundial da Língua Portuguesa, frisou Téte António, constitui “um ganho da diplomacia” da comunidade lusófona, “pois foi no dia 25 de Novembro de 2019 que [esta] viu o seu legado ser elevado à dimensão mundial pela UNESCO”.
“É uma conquista de todos os nossos povos, sendo indicativa da importância actual e futura do nosso idioma comum”, disse o secretário-executivo da CPLP, Zacarias da Costa, sobre a proclamação pela UNESCO do dia 5 de Maio como Dia Mundial da Língua Portuguesa, que, acrescentou: “Representa assim um momento de celebração colectiva do nosso idioma comum”.
“E, como habitualmente acontece, várias instituições dos Estados-membros, os observadores associados, observadores consultivos, parceiros, sinalizam essa data um pouco por todo o mundo”, notou.
Profesores cubanos enseñan portugués muy bien
O Presidente da República, João Lourenço, exigiu em Junho de 2020 mais qualidade no ensino e considerou a formação do homem como uma aposta para “corrigir muitas deficiências” que o sector enfrenta. Tem razão. E, reconheça-se, não é por culpa do MPLA que só está no Poder há… 48 anos. Citando o vernáculo do próprio presidente, se “haver” necessidade, os angolanos aceitam um “compromíssio” (agora citando a ex-ministra da Educação, Ana Paula Elias) para assim continuar por mais 52 anos.
Ao falar na cerimónia de posse do secretário de Estado para o Ensino Secundário, Gildo Matias José, o Chefe de Estado defendeu um grande investimento nos ensinos primário e secundário, na perspectiva do país ter quadros bem formados.
Provavelmente Angola pode contar (como aconteceu com os médicos) com a ajuda de professores cubanos, velhos amigos do MPLA a quem, recorde-se, ajudaram a matar angolanos, tenha sido no 27 de Maio de 1977 ou durante a guerra civil.
O também Titular do Poder Executivo disse que o homem tem que ser formado e que o país tem que ter a coragem de vencer o populismo e as correntes que defendem que todo o cidadão angolano pode ser doutor. Certo. Também podem ser generais ou, provando ter o cérebro no intestino, ser militantes do MPLA e assim serem assessores do Presidente ou ministros.
“Todo o cidadão angolano tem esse direito, mas não basta ter esse direito, é preciso que trabalhe no sentido de se qualificar para poder atingir o nível superior”, sustentou, alertando que para o país se destacar no “ranking” das universidades africanas e mundiais, a aposta tem que começar nos níveis mais abaixo, sob pena de se comprometer o futuro. Daria também institucionalizar o primado da competência e não apenas, como nas últimas décadas, o da subserviência canina ao MPLA.
Estávamos em Julho de 2019. Representantes de associações cubanas, em Angola, defenderam, em Luanda, a necessidade dos governos dos dois países reforçarem a cooperação no domínio da educação, por ser a chave para o desenvolvimento económico e social. Repetimos. Ninguém melhor do que os cubanos para, por exemplo, ensinar os angolanos e falar e a escrever em… português (veja-se o exemplo do actual Presidente do MPLA ou da ex-ministra da Educação, Ana Paula Elias).
Em declarações à Angop, o presidente da Associação da Comunidade Cubana Residente em Angola (ACRA), Carlos Moncada Valdez, sugeriu que as autoridades angolanas explorem mais o potencial cubano nesse sector (educação).
O presidente da ACRA referiu que o fortalecimento dos laços na educação, entre os dois países, devia priorizar o ensino especial, de modo a permitir maior inclusão de crianças com deficiências funcionais.
Esperanza Silva, representante da associação das famílias cubano-angolanas residentes em Angola, sublinhou que a ajuda cubana deve incidir na escolaridade básica e, desta forma, evitar que crianças fiquem fora do sistema de ensino.
Para aumentar a sua capacidade de resposta, Angola contratou expatriados cubanos para instituições de ensino superior públicas, de forma a “suprir a falta de especialistas com conhecimento e experiência necessária”, indicava um despacho presidencial.
O despacho assinado pelo Presidente da República, João Lourenço, autorizou o lançamento do procedimento de contratação simplificada para a assinatura “de dois contratos de aquisição de serviço docente de especialistas de nacionalidade cubana”, para ministrarem aulas em universidades públicas.
Em Outubro de 2017 foi noticiado que Angola previa gastar quase 55 milhões de euros com a contratação de professores cubanos para leccionarem no ensino superior público do país no ano académico de 2017.
A informação resultava de dois despachos de então, do Ministério do Ensino Superior, homologando contratos com a empresa Antex, que assegura o recrutamento de especialistas cubanos para leccionarem nas universidades do país, ao abrigo do acordo de cooperação entre os dois governos na área de formação de quadros.
De acordo com o primeiro destes despachos, a Antex foi contratada para recrutar professores do ensino superior, por 37,2 milhões de dólares (31,5 milhões de euros), e especificamente, com o segundo, para docentes para os cursos afectos à área da Saúde, neste caso por 27,4 milhões de dólares (23,2 milhões de euros). Tratava-se de praticamente a mesma verba que o Estado angolano desembolsou, para o mesmo efeito, no ano académico de 2016.
Com a psicose oficial pelo sistema de ensino de Cuba, Angola optava mais uma vez por ter clones cubanos e fazer de professores. E como Cuba é uma potência mundial em matéria de ensino em geral e de português em particular, a coisa promete…
No dia 1 de Fevereiro de 2018, o Presidente João Lourenço disse, em Moçâmedes, província do Namibe, que os desafios da educação e do ensino aumentaram, sendo uma prioridade para o sector social, pelo que deve ser maior a aposta na formação de recursos humanos.
Para além de ser uma verdade de La Palice foi, fazendo fé no Orçamento Geral do Estado, uma séria candidata ao pódio do anedotário nacional.
João Lourenço, que discursava então no acto de abertura oficial do ano lectivo de 2018, referiu que um maior investimento nos recursos humanos é a única via se se pretende “realmente tirar o país do lugar em que se encontra em relação aos indicadores do desenvolvimento humano e económico”.
Que o MPLA (partido no poder desde 1975) não quer tirar o país do péssimo lugar em que, neste como noutros sectores, se encontra, já todos sabemos. E como o governo é filho do MPLA… o melhor é esperar sentado.
“O Governo vai continuar a incluir na sua agenda a protecção e valorização das crianças e da juventude, promovendo a oportunidade de acesso à escolaridade e à formação profissional ao longo da vida. Vamos encarar a educação como um direito constitucional e trabalhar para garantir o pleno funcionamento das instituições escolares, contando para tal com a contribuição de todas as forças vivas do nosso país”, disse João Lourenço.
Fica então certo, e não há razões para duvidar da palavra do Presidente, que o Governo “vai encarar a educação como um direito constitucional”. Vai. Isto porque, até gora, não conseguiu ir… E quando João Lourenço nos fala de “protecção e valorização das crianças”, refere-se às que escaparam ao índice que nos coloca no topo dos países com mais mortalidade infantil.
De uma coisa o MPLA/Estado/Governo está certo. A Síndrome do MPLA (versão angolana da Síndrome de Estocolmo) funciona e mais uma vez dará resultados. Ou seja, o estado psicológico dos angolanos, depois de tantos anos submetidos a um prolongado estado de escravidão, começa a mostrar simpatia, ou até mesmo amor, pelos carrascos.